domingo, 5 de abril de 2009

Tribo dos Micareteiros


Essa tribo normalmente é fã do tradicional carnaval de Salvador e espera com ansiedade o mês de fevereiro. No entanto, esses foliões sempre muito agitados e festeiros não conseguem ficar sem o ritmo da folia por muito tempo, e para prepararem o fôlego aproveitam as micaretas, que acontecem durante os 12 meses do ano nos quatros canto do país. São nos carnavais fora de época que os representantes da música popular brasileira, principalmente os de axé music, ganham as atenções do público, que comandam toda a folia, banhada com muita música, abadás, pegação e paqueras. Quem pensa que a palavra Micareta é uma criação tipicamente brasileira se engana. Pois, a folia é resultado de uma antiga festa francesa, a Mi-carême, que acontecia no país desde o século XV, sempre no meio da quarentena - período que antecede a Páscoa.

O primeiro contato brasileiro com o termo se deu na cidade baiana de Jacobina, em 1933, quando o jornal local "O Lidador" passou a estimular a realização de novas celebrações na cidade, inspirado pelo modelo francês. Com a popularização dos carnavais fora de época jacobinenses, em 35, o mesmo periódico aportuguesou a Mi-carême (que significa, literalmente, Meia-quarentena), transformando-a em Micareta. Os jornalistas também sugeriram outros nomes, que ficaram menos conhecidos, como "Bicarnaval", "Sertanejas Alegres" e "Refolia". Até os anos 90 a folia ficou restrita aos baianos, depois ganhou os holofotes em todo o Brasil e se transformou em uma febre entre os universitários e jovens em geral, de estados como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, entre outros. Os responsáveis por essa popularização do evento foram conjuntos novos e veteranos do axé, que ganharam destaque no país durante a década passada, como Banda Eva, Chiclete com Banana, Netinho, Jamil e Uma Noites, Babado Novo, Asa de Águia, Araketu, Ivete Sangalo, entre outros. Pode ser em cima do palco, no trio elétrico, ao ar livre, em indoor (dentro de casas noturnas) ou até no meio da multidão (tradicional "pipoca"), o que vale durante as micaretas é estar sempre disposto e preparado para encarar muitas horas de animação. Existe alguns provérbios e acessórios da Micareta, que não podem ficar fora da festa como:

Abadá - Vestuário obrigatório, com diferentes estilos, formatos e enfeites. Normalmente em forma de regata, que as mulheres cortam e estilizam de formas diferentes; Barangar - Beijar uma pessoa que não é considerada "bonita"; Ir Patrão – Entra VIP, com open bar gratuito; Beijar a Roda - Beijar pessoas de um mesmo grupo de amigos ou amigas; Chegar beijando - O nome já diz tudo, se aproximar de alguém e já beijar de cara, sem conversa alguma( o que costuma muito acontecer); Chicleteiro - Micareteiros viciados em Chiclete com Banana, exaltados com músicas como, “chicleteiro eu, chicleteira ela...” ou “Oh maluquete de quem você é tiete, eu sou, sou tiete do chiclete”, entre outras; Zerar - Não beijar ninguém na balada; Casar - Beijar uma única pessoa por muito tempo ou ficar a festa inteira com ela; 2 dígitos - Beijar mais de 9 pessoas e menos de 100; Passar o Rodo - Beijar vária(o)s menina(o)s durante o evento, com o objetivo de chegar aos "2 dígitos"; Esquenta - Beber antes de entrar, indispensável para o ínicio da micareta. Normalmente, acontece nos estacionamentos do evento com muitas pessoas, bebidas e curtição. Às vezes, devido ao dinheiro ou por ter esgotado os ingressos, muitos foliões vão até o esquenta e não entram na festa; Guia- Colares feitos de miçangas coloridas representativas de orixá, na religião de umbanda. Entretanto, muito usadas em micaretas, com esse colar os foliões se identificam por ser micareteiro ou não. A cor tradicional é azul com branco.

Atualmente o que está acontecendo muito nessas festas é a versatilidade dos estilos musicais, uma mistura de shows de pop/rock, música eletrônica, reggae, pagode, tudo na mesma festa. Com isso, promove o encontro de diferentes tribos com a fusão de gêneros e estilos. Se, por acaso, no meio de uma multidão de pessoas você se deparar com alguém que quase nada conhece da música baiana, não se assuste, afinal você está em uma micareta. Além dos fãs desse tipo de festa, que sabem na ponta da língua todas as músicas do momento e os principais representantes do gênero, existem aqueles que procuram os "carnavais fora de época" pelo clima de folia. São fãs de música eletrônica, freqüentadores de bailes funk, ou gente que nunca comprou um CD de axé na vida, mas que está lá para se divertir. E por buscar diversão, essa festa conta com um público de faixa etárias muito diferentes, como esse casal:

Aos interessados em shows, eventos, modas de abadas, hábitos ou gírias dessa tribo, ai vai alguns sites e comunidades para vocês ficarem por dentro de mais informações: -- http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26551412

- http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=2163931

- http://www.obaoba.com.br

- www.auefolia.com.br

- www.guerreirosdafolia.com.br

- www.atrasdotrio.com.br

* Veja também, a um vídeo de Daniela Suzuki em seu programa no Multishow, quando a apresentadora falou das tribos de micareteiros e obteve declarações de Claudinha Leite e Durval, do Asa de Águia.

http://www.youtube.com/watch?v=5t5TWSPG_Gc

Para encerrar a matéria fique agora com uma simples Oração dos micareteiros:

Pai nosso que estais no trio
Santificado seja o nosso abadá
Venha a nós a nossa micareta
Seja feito o nosso axé
Assim na pista como no camarote
A felicidade nossa de cada dia que nos dai hoje
Perdoai as pessoas que não foram
Assim como nós perdoamos a quem bebeu demais
E atrapalhou nossa micareta
Deixar-nos cair em tentação
Mas livrai-nos dos tocos
Amém!

Pelo menos para os micareteiros, carnaval é carnaval todos os meses do ano!

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